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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Berço do Rio de Janeiro - Morro do Castelo

Em nossas escolas aprendemos que a cidade do Rio de Janeiro se originou pelo Morro do Castelo. Mas você sabe onde ficava esse morro?
Ilustração do Rio de Janeiro em 1820
Esse post tratará desse assunto, pois me surpreendi ao saber que muitos cariocas não sabem ou não sabiam da existência do Morro do Castelo.

Toda cidade possui uma origem. Dependendo dos povos ou da situação envolvida, fundava-se uma vila ou povoado. No caso, os portugueses possuíam uma particularidade para a fundação de uma cidade no Rio de Janeiro.

Primeiramente, ela foi fundada em uma praia ao pé do Morro do Pão de Açúcar, que futuramente se tornou a Fortaleza de São João, sendo chamada de São Sebastião do Rio de Janeiro.  Nessa época o Rio estava sendo invadido por franceses e os portugueses precisavam ser ágeis pra evitar a invasão. Daí o nascimento da cidade.
Antigo mapa mostrando toda Baia de Guanabara, como sendo o Rio de janeiro
e a Cidade como Cidade de São Sebastião.
Porém, como a história conta, a guerra ocorreu e os portugueses venceram. Depois da guerra, eles acabaram mudando a localização da cidade para um local entre os 4 morros que tivesse melhor visibilidade para avistar um navio que entrasse pela Baía de Guanabara. Por isso foi escolhido o Morro do Castelo.

Cidade de Lisboa em Portugal - Mostrando o Castelo


Outro Ângulo da cidade - Mostrando a Igreja
Mas havia uma outra particularidade do porquê a cidade ter sido erguida no morro.  Lisboa, capital de Portugal, era formada em cima de um morro e vinha descendo-o até onde era planície; é uma cidade de origem medieval, por isso  é murada com as ruas irregulares e no topo há um castelo e uma igreja. As fachadas das casas eram simples, com a fachada frontal pequena e os fundos longos, mas as igrejas eram ricas e monumentais. E foi sobre essa referência que nossos colonizadores construíram o Brasil no século XVI, incluindo cidades como Rio de Janeiro, Ouro Preto e Olinda.

Em se tratando do Morro do castelo,em seu topo havia a primeira igreja construída no Rio, a primeira Igreja e o Forte de São Sebastião - padroeiro da cidade dando o nome ao forte e a igreja - e a primeira Igreja e Colégio Jesuíta a Santo Inácio, possuindo ainda uma praça e ruas irregulares, exatamente como é em outras cidades coloniais do Brasil, lembrando a saudosa Lisboa para o coração do português. 


Antiga Foto do Morro em 1900
Mapa ilustrando onde localizava as principais ladeiras, a igreja e o Forte.
Antiga foto mostrano a Av. Central (Atual Av Rio Branco) no ângulo do inicio do Morro
Foto antiga antes da Abertura da Av. Central
Foto da Igreja de São Sebastião. Primeira Igreja do Rio de Janeiro
Foto da Igreja/Colégio Jesuíta de Santo Inácio. 
Descendo o morro apareciam as primeiras casa urbanas coloniais, algo que hoje na cidade do Rio não existe mais.
No lugar do morro, hoje existe uma avenida, edificações ainda do início do século 20 e muitos prédios atuais no local. O seu desmonte aconteceu em 1921, como um projeto de reforma urbanística alegando que o morro atrapalhava a circulação de ar tornando a cidade insalubre. Mas será que era realmente esse motivo?


Foto mostrando o desmonte do morro
O desmonte foi realizado por jato d'agua sob pressão
Jornal da época dando a noticia.



A verdade é que havia muitas casas velhas no local e a cidade estava se modernizando. Muitas pessoas de baixa renda moravam no local, o que enfeava a capital. Mas será que realmente valeu a pena essa perda? Afinal, não temos mais a primeira igreja, nem o forte que avistava os navios inimigos, nem o primeiro colégio jesuíta e nem o morro que deu origem a tudo. São nossas relíquias históricas que fazem hoje falta na vida do carioca e que, por não existirem mais, caem no esquecimento..

Atual localização de onde seria o Morro do Castelo.
Um dos poucos monumentos que sobraram, a Igreja de Santas Luzia,
que ficava ao pé do morro e a beira-mar. 
Fontes:
http://urbanchange.eu/2014/07/15/demolishing-morro-castelo/
http://www.marcillio.com/rio/enceesca.html

sábado, 6 de outubro de 2012

São João Del Rei

Para finalizar a nossa série de post sobre Tiradentes, vamos falar de sua irmã rica, a cidade vizinha de São João Del Rei.
Imagem mostrando a variação arquitetônica do local
Foto: Lídia Quièto

A cidade se mostra bem diferente de sua vizinha, principalmente porque Tiradentes tinha pouco ouro, enquanto São João Del Rei teve sempre mais recursos e, com isso, um crescimento urbano maior. Existem lá partidos arquitetônicos do período colonial ao contemporâneo. Há residências ecléticas, coloniais e neoclássicas convivendo com casas modernas, Art Déco e contemporâneas. Nas ruas, vemos que houve modernização como pavimentação e muros e cercas protegendo as casas. Encontramos jardins planejados, ônibus e carros passando e igrejas rococós e barrocas junto com os passos espalhadas pela cidade. No contexto urbano, o traçado da cidade se formou pelo mesmo princípio de Tiradentes, aproveitando a topografia local usando curvas de nível em tabuleiro. 

Mapa da Comarca do Rio das Mortes em 1780 
Extraído
Wikipedia

Assim como Tiradentes e outras cidades do mesmo período, São João Del Rei se formou devido ao ouro de lavagem. Ela originou-se no Arraial Novo do Rio das Morte e em 1713 recebeu seu nome atual em homenagem a Dom João V, rei de Portugal. Marcada por acontecimentos e histórias como a inconfidência mineira, em 1827 ela ganha o status de cidade, não tendo mais em sua configuração urbana uma feição colonial, e sim possuindo cerca de 1.600 casas distribuídas em 24 ruas e 10 praças. Ainda no século XIX, já contava com casa bancária, hospital, biblioteca, teatro e cemitério público construído fora do núcleo urbano, além de serviços de correio e iluminação pública a querosene. Em 1881, a cidade recebeu a primeira seção da Estrada de Ferro Oeste-Minas, que liga as cidades da região a outros importantes ramais da Estrada de Ferro Central do Brasil.


“A formação peculiar da cidade, que evoluiu de arraial minerador para importante pólo comercial da região do Campo das Vertentes, é responsável por sua característica mais interessante: uma mescla de estilos arquitetônicos que tem origem na arte barroca, passa pelo ecletismo e alcança o moderno. Em São João del-Rei, é possível apreciar a evolução urbana de uma vila colonial mineira, cujo núcleo histórico permanece bastante preservado em harmonia com as construções ecléticas do século XIX e as mudanças ocorridas no século XX.” (site da prefeitura municipal de São João del Rei” http://www.saojoaodelrei.mg.gov.br/?Pagina=historia)
Túmulo de Tancredo Neves
Foto: Daniel Cinicalcci

Ela também é terra natal de pessoas famosas como o mártir da Inconfidência Mineira, Tiradentes, o presidente eleito do Brasil em 1985, Tancredo Neves, o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, o jornalista e escritor Otto Lara Resende, o Padre José Maria Xavier (compositor sacro), Francisca Paula de Jesus (a "santa" Nhá Chica, que está em vias de ser canonizada pelo Vaticano), dentre outros.








Segue abaixo as imagens e alguns exemplares arquitetônicos do local.

Escola Municipal com fachada Eclética
Foto: Lídia Quièto
Residência na rua principal também de partido Eclético.
Acervo pessoal.
Edifício Eclético Classicizante
Acervo pessoal
Ponte antiga do período Colonial
Acervo Pessoal
Prédio Art-Deco
Acervo pessoal
Igreja São Francisco de Assis com seu exterior  Rococó...
Foto: Lídia Quièto

...e seu interior Rococó
Foto: Lídia Quièto
Residência Contemporânea
Acervo Pessoal

Residências Coloniais
Acervo Pessoal. 

Rua mostrando a variação arquitetônica do local
Acervo Pessoal
Fonte:

Fotos:
Lídia Quiènto Viana
Daniel Cinicalcci
Acervo Pessoal








quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Igrejas de Tiradentes

No Brasil, depois da descoberta do ouro, Portugal permitiu que as irmandades e confrarias entrassem apenas no interior do país. Isso foi uma medida encontrada para não permitir que ordens religiosas (no caso as beneditinas, jesuítas, franciscana e carmelitas) pegassem o ouro para elas. É por isso que, enquanto no litoral encontramos conventos, mosteiros e colégios jesuítas, no interior só encontramos igrejas e capelas.

Ilustração que mapeia todas as igrejas de Tiradentes e o Museus da Liturgia
Foi extraido do site do Museu da Liturgia.
Tiradentes não foi exceção. Aqui encontramos igrejas de três categorias, como foi dito em post anterior (http://nossarquitetura.blogspot.com.br/2012/07/tiradentes-ou-sao-jose-del-rey-rua-em.html):
1º- Capela com frontões triangulares, 2º-Capelas com frontões curvilíneos e 3º - Matriz.
Essa divisão foi feita pelas observações apresentadas a seguir. Tiradentes não foi uma cidade em que descobriu-se muito ouro. Ela, entre as principais colônias do ciclo mineiro, foi a cidade mais pobre e por isso não teve muito investimento em igrejas e chafarizes, dentre outros elementos arquitetônicos.
As igrejas permaneceram na forma de capelas simples e não havia uma preocupação em trazer um repertório barroco ou rococó. Somente a igreja da Matriz recebeu investimento por ser a igreja principal da cidade.


1º - Capela com frontões triângulares
São as igrejas Santo Antonio do Canjica, São Francisco de Paula e São João evangelista. As três possuem características similares, com o frotão triangular de coroamento fazendo o acompanhamento do caimento das águas do telhado, o corpo central elevado, um óculo e alas laterais mais baixas e simétricas onde estão os sinos. Todas essas igrejas possuem forte influência das capelas rurais portuguesas e um programa arquitetônico simples: nartéx, coro, capela-mor e sacristia, sendo os aposentos de forma retangular com pouca ornamentação e podendo ter corredores ou capelas laterais.

Igrejas Santo Antonio do Canjica Fonte: Internet

Igreja São João evangelista Fonte: Intenet
Igreja São Francisco de Paula Fonte: Acervo Pessoal
2º - Capela com frontões curvilíneos
São as igrejas Bom Jesus Agonizante, Nossa Senhora do Mercês, Nossa Senhora do Rosário e o Santuário da Santíssima Trindade. Essas já possuem uma preocupação formal em sintonia com os modelos eruditos e de inspiração barroca (atendendo a tendência da época). Como programa arquitetônico, todas elas possuem uma organização similar como das citadas na primeira categoria, alterando-se alguns elementos. No entanto, elas possuem um frontispício arrematado por volutas em composição mais rebuscada e cantaria sobre corpo central.  Entre elas, a Bom Jesus Agonizante possui um caráter mais simples, como se fosse uma interpretação mais popular dessa composição de fachada. Já a Nossa Senhora do Rosário é o melhor exemplar, sendo ela a mais elaborada e tendo em seu interior um altar-mor esculpido em madeira policromada, o púlpito em granito e madeira e a pintura do teto representando a vida de N.Sª do Rosário.
Igrejas Bom Jesus Agonizante Fonte: Acervo Pessoal
Santuário da Santíssima Trindade - Foto de Liane Flemming
Nossa Senhora do Rosário Foto de Marcus Alvarenga
3º - Matriz
Essa categoria possui uma única igreja, a da Matriz de Santo Antônio. Essa igreja é a mais rica da cidade e atende ao repertório barroco. O aspecto atual estabelece semelhança com as grandes igrejas mineiras, como Conceição de Ouro Preto ou Carmo de Sabará.
“O gosto barroco pode ser observado no movimento do frontispício, no trabalho da portada e principalmente na talha do altar, da primeira metade do século XVII ou no dinamismo da balaustrada do coro. No adro da igreja, implantada na principal ladeira da cidade, um relógio de sol, de duas faces, do final do séc. XVIII, dispõe-se à esquerda da entrada, logo após a escadaria em cantaria.” (Caderno de Arquitetura no Brasil - Tiradentes e São João Del Rey - Universidade Gama Filho)
No interior, ainda temos o teto com forro em madeira pintada, o púlpito, o trabalho em marcenaria das talhas e a prevalência de cores escuras e douradas na decoração, com muitos ornamentos característicos do estilo. Além de possuir um órgão importado de Portugal, possui também o piso marcado com as antigas covas, onde foram enterrados nobres e pessoas importantes da igreja. No lado de fora, ainda encontra-se um cemitério e, atrás dela, o acesso ao beco das almas.
Igreja da Matriz - Vista Frontal Foto: Marcus Alvarenga
Igreja da Matriz - Vista Lateral Foto: Acervo Pessoa
Cemitério ao Lado da Igreja Foto: Acervo Pessoal

Interior da Igreja da Matriz
Foto: Marcus Alvarenga


Para completar, temos ainda o Passo.  Ela é uma pequena edificação com apenas uma porta na fachada, frontispício curvilíneo, cantarias laterais e só é aberta durante a semana santa, quando a procisão passa para fazer a mesma triagem que Jesus fez antes de ser crucificado. No seu interior há um altar e uma pintura representando uma passagem bíblica. Há 7 passos na cidade, que se encontram frente à antiga Cadeia, no largo do Pelourinho, no largo do Ó, na Rua Direita, no largo das forras e na rua do Sol. O último passo era constituído por uma armação na porta da igreja Matriz, fechando as estações. 
Passo perto da Igreja do Rosário Foto: Marcus Alvarenga
Passo aberto na Rua Direita Foto: Acervo Pessoal.
Já que estamos falando de arquitetura religiosa de Tiradentes, ainda há um Museu da Liturgia. Foi construído recentemente e nele são guardadas muitas obras artísticas, imagens de santos e utensílios religiosos. Todos estão preservados e, quando necessários para alguma atividade religiosa ou eventos, eles são disponibilizados pelo museu às igrejas, retornando depois a ele.

Caso tenha interesse em saber mais sobre a ação e a liturgia, segue o link:
http://www.museudaliturgia.com.br/


Fontes:
: VERISSIMO, Francisco, BITTAR, William, MENDES, Chico. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial novo milênio 2010
BITTAR, William S. M. Tiradentes - MG: Cadernos de Arquitetura no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho.  2012
http://museudaliturgia.com.br/index.php
http://www.santuariosstrindade.com.br/index.php?secao=ver_conteudo&id_conteudo=6


Imagens.


http://blog.unavocebrasil.org/calendario-una-voce-brasil/
- Foto de Marcus Alvarenga
- Acervo Pessoal
- Liane Flemming

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cadeia e Chafariz de Tiradentes


Como prometido, falaremos agora mais sobre o que ficou pendente do último Post.

Cadeia

Foi construída no séc. XVI para abrigar a cadeia da vila. Geralmente a cadeia fica junto da câmara e em uma praça pública, mas, nesse caso, encontramos a cadeia separada da câmara e em frente à igreja do Rosário.
Foto mostrando o acesso da cadeia em frente a igreja.
Em Tiradentes encontra-se o mesmo que nas outras cidades coloniais, mas em menor escala. A Cadeia é um bom exemplo pra tal.
Ela é térrea e o desnível do local foi aproveitado para um porão, onde é outra cadeia. Dependendo do crime ou do estatus do cidadão, ele poderia ser levado para a cadeia de cima ou para a de baixo. Geralmente os mais pobres e sem prestígio eram os que ficavam nesse porão. 
O interessante dela é que, enquanto ao longo da cidade encontramos todas as casas de cor branca com o detalhe das esquadrias e ornamentos coloridos ou em pedra, seu edifício possui as paredes rosa com as cantarias em pedra, o que mostra uma diferença de importância e funcionalidade, destacando-a de todo o resto.
Um dado importante sobre ela era sua relação com a sociedade. A população poderia ver que o criminoso estava realmente preso através de suas janelas grandes (com grades), satisfazendo e promovendo a segurança da cidade.  E por essas janelas ele recebia da população comida e roupa, que não eram oferecidos na cadeia, porém sem humilhação do prisioneiro.
E se o criminoso fosse alguém de grande importância e tivesse escravos, poderia colocar o próprio escravo representando-o na prisão. Por mais que esse sim não tivesse muito prestígio na época, o escravo não ficava preso, mas era reaproveitado para trabalhar nas obras públicas. 

Foto mostrando o interior.
Foto: Extraído da Flickr (Link no final)

Foto mostrando os fundo da cadeia com o desnivel sendo aproveitado para porão.
Foto: Extraído da Flickr (Link no final) 




Chafariz

Foto do Chafariz de São José.
Foto: Extraído da Flickr (Link no final)
 Antigamente, essa era a forma de fornecer água para aquela população.  A água (vinda de um aqueduto ou outra qualquer construção realizada com pleno conhecimento de engenharia sobre mecânica dos fluidos) fica na bacia do chafariz onde os escravos iam pegá-la para levar para as casas.
  O Chafariz de São José em Tiradentes é um dos melhores exemplares de Chafarizes e da arquitetura oficial daquela época. Ele é o único para a vila toda. Além do pano vertical envolto por volutas em cantaria, enquadrada em um pequeno nicho está a imagem de São José, encimado por uma cruz, de onde saem três bicas em forma de carrancas. Ainda possui três bacias independentes em cantaria para o abastecimento da população, lavagem de roupas e utensílios e água para animais e tropa.
Biscas em forma de carrancas
Foto: Marcus Alvarenga
Aqueduto de pedra levando a água para
o chafariz.  Foto: Extraído da Flickr (Link no final)




























Nicho mostrando a imagem de São José.
Foto: Extraído da Flickr (Link no final)



Desenho mostrando o chafariz em planta e fachada.
Imagem: extraído do livro Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI























Em próximo post, falaremos da Arquitetura Religiosa de Tiradentes.

Fontes:
- VERISSIMO, Francisco, BITTAR, William, MENDES, Chico. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial novo milênio 2010
- BITTAR, William S. M. Tiradentes - MG: Cadernos de Arquitetura no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho.  2012

Imagens :
- VERISSIMO, Francisco, BITTAR, William, MENDES, Chico. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial novo milênio 2010
- Marcus Alvarenga
- Acervo Pessoal

terça-feira, 24 de julho de 2012

Tiradentes ou São José del Rey


Rua em Tiradentes mostrando as casas
e o calçamento. Foto: Marcus Alvarenga
A antiga cidade de São José del Rey em Minas Gerais, mais conhecida hoje como Tiradentes, é mais uma cidade que possui grande importância histórica para o nosso país. Ela é uma das cidades que fez parte da busca pelo ouro e seu nascimento é semelhante ao das outras dessa mesma época. Sendo essa uma cidade colonial, não há muita variação de seu cenário comparado com as outras cidades coloniais. Ela possui lotes estreitos e profundos, ruas sem arborização, sinuosas, acidentadas, entrecortadas por becos e vielas, calçamento em pé de moleque, fachada com beirais aparentes, portas e janelas grandes e coloridas com as paredes brancas e uma arandela de ferro da época, e, se estiver ainda envolto por uma névoa, produz um cenário perfeito que nos faz lembrar das lendas, assombrações e conspirações que deviam ter acontecido naquele local.

Cidade vista de longe mostrando como  a cidade não possui uma
 topografia tão acidentada. 

Chafariz até hoje ativo
Foto: Marcus Alvarenga
No aspecto urbano,  o fato de a cidade não possuir muitas riquezas (comparando a quantidade de ouro extraída em Tiradentes com Ouro Preto)  e a topografia local permitiram que seus fundadores optassem por implantar curvas de níveis, em tabuleiros, evitando as grandes ladeiras como era em Vila Rica (Ouro Preto).  Tanto que a cidade só possui três grandes ladeiras, sendo a sua principal levando à igreja da Matriz.

Em aspecto arquitetônico, Tiradentes consegue ter os três tipos de exemplares arquitetônicos que uma cidade pode ter: Civil, Oficial e religiosa.
Civil: São as antigas casas e casarões coloniais que encontramos ao longo da cidade, podendo ser tanto térreas quanto sobrados.
Oficial : Devido à falta de riquezas, a cidade teve pouco desses exemplares, valendo destacar três edificações de suma importância, que são a Cadeia antiga, a Câmara e o Chafariz de São José, que até hoje se encontra ativo.
Cadeia 

Religiosa: Como no interior do Brasil só foi permitida a entrada das irmandades e confrarias, possuímos em Tiradentes somente igrejas e capelas. Podemos dividi-las em três categorias: 1- Capela com frontões triangulares, acompanhando o caimentos das águas do telhado, como as igrejas de Santo Antonio do Canjica, São Francisco de Paula e São João evangelista.  2- Capelas com frontões curvilíneos, demonstrando uma maior preocupação formal, em sintonia com os modelos eruditos de inspiração barroca, incluindo Bom Jesus Agonizante, Nossa Senhora das Mercês e Nossa Senhora do Rosário. 3- A matriz, mostrando boa qualidade, formal e funcional, e atendendo a um repertório barroco. E temos ainda o passo. Esse atendente o repertório arquitetônico das igrejas e só é aberto no dia da paixão, para simular a relembrar a passagem de cristo indo para a crucificação. São 7 passos no total em toda a cidade. 

Igreja da Matriz, Atendendo a 3ª
categoria - Foto: Marcus Alvarenga
Igreja Nossa Senhora do Rosário,
Atendendo a 2ª categoria
Foto: Marcus Alvarenga

Igreja São Francisco de Paula,
atendendo ao 1º categoria 


Um Passo
Foto: Marcus Alvarenga
E não para por ai.
Ao longo da cidade encontramos também exemplares de casas começando a atender à arquitetura neoclássica e ao eclético. São poucas, mas mostram que a cidade não parou no tempo.

E algo que não podemos esquecer é falar sobre o nome da cidade, Tiradentes, que foi dado em homenagem ao alfere Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes.
Memória a Tiradentes 
"...foi em São José que o menino cresceu ouvindo histórias do ouro, como a do Capão da Traição, ali próximo, ou da Guerra dos Emboabas, quando as mulheres paulistas exigiram a iniciativa de seus maridos em resistir ao poder. Ali ele freqüentou as ordens religiosas com seu pai e aprendeu, com o padrinho, o ofício que lhe valeu o apelido.  De São José partiu para tentar a sorte: dentista, tropeiro, minerador e finalmente alferes. De São José o Alferes saiu do estigma de traidor da Coroa para a Glória de luta por um Brasil melhor livre de qualquer jugo."  

Em próximos posts, serão melhor explicados a Antiga Cadeia, o Chafariz, a Arquitetura Religiosa e falaremos de sua cidade vizinha São João del Rey.
Até a próxima.

Cemitério ao lado da Igreja da Matriz
Foto: Marcus Alvarenga


Indo a Tiradentes.
Patricia Otranto

Terra da inconfidência
ouro que causa inocência
inocência de um mundo
que nunca existiu

Sensação vibrante
das terras calmas e brandas
campos verdes refletindo
a paz que há em mim

Céu religioso
pintado nas igrejas
sol abençoado
e noite a assombrar

Será que há seres estranhos?
Não sei.
Mas há os que viveram lá
e sua memória 
escondida em seus túmulos está. 




Fontes:
VERISSIMO, Francisco, BITTAR, William, MENDES, Chico. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial novo milênio 2010
BITTAR, William S. M. Tiradentes - MG: Cadernos de Arquitetura no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho.  2012

Fotografia:
- Fotografo: Marcus Alvarenga
- Acervo Pessoal