segunda-feira, 6 de julho de 2015

Arquitetura + Música = Gente Humilde


Vinícius de Moraes foi um dos grandes poetas brasileiros que marcou uma geração e ainda caminhou pela música popular com diversas parcerias. Entre suas características, muitas poesias retratavam o cotidiano, como nesta letra que retrata o subúrbio de uma cidade e seus moradores, em Gente Humilde, composta com Chico Buarque e Garoto:





Na música destacasse:

“quando eu passo
Num subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem
De algum lugar”
  
Aqui está o lugar onde se encontra essa “gente humilde”: o subúrbio. Geralmente, essas regiões são formadas por pessoas com baixo poder aquisitivo, que ali vão morar onde poderão ter condições de sustento. Mostra também que o trem é uma das principais formas de acesso.
Hoje consideramos o trem como uma das melhores alternativas de transporte coletivo de massa, mas que, em uma determinada época, não recebeu o merecido investimento no país. Agora cidades buscam alternativa nas grandes metrópoles através de trem, metrô, bondes e ônibus articulados. Mas para essa "gente humilde" era o seu transporte.
Trem do Subúrbio Ferroviário de Salvador









Cidade do Interior do Rio de Janeiro
Subúrbio nos Estados Unidos

O subúrbio ou periferia são áreas que ficam ao redor das áreas centrais de um aglomerado urbano. Dependendo do país e de sua cultura varia o valor agregado a essas regiões. No caso do Brasil, é considerado como uma região que geralmente não possui infraestrutura adequada, baixo valor do terreno, difícil acesso e carente de serviços. Comparando-se com países desenvolvidos, ali o subúrbio possui um outro contexto. A população que vai morar naquele subúrbio busca qualidade de vida longe dos centros urbanos, com oferta de melhor infraestrutura, uma área de expansão da cidade. Neste outro subúrbio não habita a “gente humilde” de Vinicius, mais uma população de poder aquisitivo médio e alto, incluindo acesso a transporte coletivo de qualidade.   


“São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada, escrito em cima
Que é um lar
Pela varanda, flores tristes
E baldias
Como a alegria que não tem
Onde encostar”





Eis aqui o retrato do cotidiano dessas pessoas que moram no nosso subúrbio. Vinicius nos deixa a imaginar como seria uma casa simples com cadeiras na calçada... Em algumas regiões no interior do país e mesmo em alguns poucos bairros da cidade ainda encontramos moradores que saem de suas casas e colocam as cadeiras ao lado de fora para conversar com os vizinhos e ver as crianças brincarem. Essas casas, provavelmente são térreas possuindo um telhado ou uma laje na cobertura, podem ser pequenas com um pequeno jardim na frente e um quintal aos fundos, talvez tenha uma horta, um carro velho na garagem, um cachorro ou gato, uma pintura gasta e uma rua de barro ou asfaltada com pouco movimento. Essas casas podem ser construídas com tijolo ou com alguma técnica construtiva mais rudimentar como a taipa-de-mão ou adobe, mas certamente vão tentar manter a pintura de suas casas sem manchas do tempo.



 













O Brasil, com sua diversidade de cidades que assinalam o progresso, também possui as periferias ou cidades pequenas que mantem um estilo de vida menos agitado como das metrópoles, o que o faz encantador. Geralmente lembramos das diversidades pelos sotaques, costumes, culturas, culinária, música, mistura de raças, mas dentro das diversidades se inclui as cidades e edificações. Além de procurarmos conhecer (e compreender) os diversos gêneros e estilos arquitetônicos, a casa simples descrita pelo poeta é conhecida no dito popular como "a verdadeira casa brasileira", aquele lar onde se espera abrigar uma família feliz.

Segue então a letra da música e o áudio.

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece
De repente
Como um desejo de eu viver sem me notar
Igual a tudo, quando eu passo
Num subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem
De algum lugar
Aí me dá uma inveja
Dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada, escrito em cima
Que é um lar
Pela varanda, flores tristes
E baldias
Como a alegria que não tem
Onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito de eu não ter
Como lutar
E eu não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Vinícius de Moraes


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 Fonte:
- Site Vagalume: http://www.vagalume.com.br/vinicius-de-moraes/gente-humilde.html Acesso dia 05/06/2015
-Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=b2Bcjt369m8 Acesso 06/07/2015
-Imagens: Google imagens.




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O Berço do Rio de Janeiro - Morro do Castelo

Em nossas escolas aprendemos que a cidade do Rio de Janeiro se originou pelo Morro do Castelo. Mas você sabe onde ficava esse morro?
Ilustração do Rio de Janeiro em 1820
Esse post tratará desse assunto, pois me surpreendi ao saber que muitos cariocas não sabem ou não sabiam da existência do Morro do Castelo.

Toda cidade possui uma origem. Dependendo dos povos ou da situação envolvida, fundava-se uma vila ou povoado. No caso, os portugueses possuíam uma particularidade para a fundação de uma cidade no Rio de Janeiro.

Primeiramente, ela foi fundada em uma praia ao pé do Morro do Pão de Açúcar, que futuramente se tornou a Fortaleza de São João, sendo chamada de São Sebastião do Rio de Janeiro.  Nessa época o Rio estava sendo invadido por franceses e os portugueses precisavam ser ágeis pra evitar a invasão. Daí o nascimento da cidade.
Antigo mapa mostrando toda Baia de Guanabara, como sendo o Rio de janeiro
e a Cidade como Cidade de São Sebastião.
Porém, como a história conta, a guerra ocorreu e os portugueses venceram. Depois da guerra, eles acabaram mudando a localização da cidade para um local entre os 4 morros que tivesse melhor visibilidade para avistar um navio que entrasse pela Baía de Guanabara. Por isso foi escolhido o Morro do Castelo.

Cidade de Lisboa em Portugal - Mostrando o Castelo


Outro Ângulo da cidade - Mostrando a Igreja
Mas havia uma outra particularidade do porquê a cidade ter sido erguida no morro.  Lisboa, capital de Portugal, era formada em cima de um morro e vinha descendo-o até onde era planície; é uma cidade de origem medieval, por isso  é murada com as ruas irregulares e no topo há um castelo e uma igreja. As fachadas das casas eram simples, com a fachada frontal pequena e os fundos longos, mas as igrejas eram ricas e monumentais. E foi sobre essa referência que nossos colonizadores construíram o Brasil no século XVI, incluindo cidades como Rio de Janeiro, Ouro Preto e Olinda.

Em se tratando do Morro do castelo,em seu topo havia a primeira igreja construída no Rio, a primeira Igreja e o Forte de São Sebastião - padroeiro da cidade dando o nome ao forte e a igreja - e a primeira Igreja e Colégio Jesuíta a Santo Inácio, possuindo ainda uma praça e ruas irregulares, exatamente como é em outras cidades coloniais do Brasil, lembrando a saudosa Lisboa para o coração do português. 


Antiga Foto do Morro em 1900
Mapa ilustrando onde localizava as principais ladeiras, a igreja e o Forte.
Antiga foto mostrano a Av. Central (Atual Av Rio Branco) no ângulo do inicio do Morro
Foto antiga antes da Abertura da Av. Central
Foto da Igreja de São Sebastião. Primeira Igreja do Rio de Janeiro
Foto da Igreja/Colégio Jesuíta de Santo Inácio. 
Descendo o morro apareciam as primeiras casa urbanas coloniais, algo que hoje na cidade do Rio não existe mais.
No lugar do morro, hoje existe uma avenida, edificações ainda do início do século 20 e muitos prédios atuais no local. O seu desmonte aconteceu em 1921, como um projeto de reforma urbanística alegando que o morro atrapalhava a circulação de ar tornando a cidade insalubre. Mas será que era realmente esse motivo?


Foto mostrando o desmonte do morro
O desmonte foi realizado por jato d'agua sob pressão
Jornal da época dando a noticia.



A verdade é que havia muitas casas velhas no local e a cidade estava se modernizando. Muitas pessoas de baixa renda moravam no local, o que enfeava a capital. Mas será que realmente valeu a pena essa perda? Afinal, não temos mais a primeira igreja, nem o forte que avistava os navios inimigos, nem o primeiro colégio jesuíta e nem o morro que deu origem a tudo. São nossas relíquias históricas que fazem hoje falta na vida do carioca e que, por não existirem mais, caem no esquecimento..

Atual localização de onde seria o Morro do Castelo.
Um dos poucos monumentos que sobraram, a Igreja de Santas Luzia,
que ficava ao pé do morro e a beira-mar. 
Fontes:
http://urbanchange.eu/2014/07/15/demolishing-morro-castelo/
http://www.marcillio.com/rio/enceesca.html