quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Arquitetura + Música = Minha Alma (A paz que não quero)


A música composta por Marcelo Yuka, da banda O Rappa, traz uma forte crítica social, abordando a ilusão e o medo da sociedade perante a violência e acontecimentos que nem aconteceram. A letra da música ainda ressalta o comodismo e a indiferença social.

Mas o que essa música tem a ver com a arquitetura? Destaca-se em uma frase:

“As grades do condomínio são pra trazer proteção, mas também trazem a dúvida se é você que está nessa prisão”
 Fig1. Grades de entrada de um condomínio no Recreio dos Bandeirantes. 
Hoje, as grandes construtoras buscam construir condomínios com amplas áreas de lazer e promessa de segurança. Principalmente em uma cidade grande, movimentada, com forte crescimento desordenado e favelização como o Rio de Janeiro.
Geralmente, os moradores de condomínios são da classe média e alta, o mesmo público que busca o status social, o bem estar e a tal segurança da propaganda.
Fig2. Condomínio atual da Barra da Tijuca. 
O que poucas pessoas sabem é que o contexto urbano ou edificado causa influências indiretas em nosso comportamento. Fechar-se em “pequenas cidadelas”, como é o caso dos condomínios fechados, é promover o isolamento das pessoas a um determinado local, limitando-as de circular pela cidade e de ver qual é a verdadeira realidade.
Esse modelo de moradia foi estabelecido pelos promotores imobiliário na época do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, nos anos 70, elaborado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa. Esse seria, mais tarde, um novo modelo de “como viver” em várias regiões do Rio de Janeiro - não necessariamente nas regiões ainda não urbanizadas, mas nas regiões das periferias.
A tal segurança já era questionada nesta época, quando havia um grande crescimento desordenado da cidade graças ao milagre econômico. E as mesmas imobiliárias vendiam junto um novo conceito: o de “morar onde se gostaria de passar as férias”.


Fig3 e 4. Antigas propagandas de venda de apartamentos da Barra da Tijuca
Então, quem será que vive numa prisão?
Ou quer ficar “na poltrona no dia de domingo”?
A letra da música faz pensarmos se o fato de viver num local assim é realmente viver em segurança. Isolar as pessoas cada vez mais da cidade é promover aos poucos que elas não se desloquem para outros pontos, fazendo-as até perde a noção da realidade e se baseando em fatos que chegam em casa pelos canais de telecomunicação. 
Como será que queremos viver? Como queremos as nossas cidades? Como queremos a nossa sociedade?
Seguem letra e música. Tirem suas conclusões: será que essa arquitetura não interfere na vida social?

A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz
Paz sem voz
Não é paz é medo

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero
Conservar
Para tentar ser feliz (x4)

As grades do condomínio
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar
Na poltrona no dia de domingo, domingo
Procurando novas drogas
De aluguel nesse vídeo
Coagido é pela paz
Que eu não quero
Seguir admitindo
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
Admitindo
Video-Clip da música Minha Alma (A paz que eu não quero)
Fontes: 

LEITÃO, Gerônimo. A construção do Eldorado urbano - o plano piloto da Barra da Tijuca e baixada de Jacarepaguá - 1970 / 1988. Niteroi, Rj: EDDUFF,1999
FREITAS, Gustavo. Minha Alma (A paz que eu não quero) - O Rappa, Campinas, 27/05/2010 Disponivel em: thttp://musicasbrasileiras.wordpress.com/2010/05/27/minha-alma-a-paz-que-eu-nao-quero-o-rappa/ Acesso em 25/08/2013
VAGALUME,  Minha Alma (A paz que eu não quero),Disponivel em: http://www.vagalume.com.br/o-rappa/minha-alma-a-paz-que-eu-nao-quero.html#ixzz2d8chofA2 Acesso 25/08/2013